quinta-feira, 28 de novembro de 2013

As palavras do Professor José Alberto Rodrigues...


A minha posição sobre a PACC

Eu NÃO me inscreveria, NUNCA faria esta prova

Num ponto prévio refiro que esta é uma opinião pessoal relativamente à PACC e que o mesmo não representa qualquer posição institucional relativamente a instituições às quais pertenço.

Não sendo professor contratado, poderá parecer que a PACC não me afecta e que não tenho opinião sobre a mesma. Redondamente enganados. Como um repórter de um canal televisivo costuma dizer, “isto anda tudo ligado”!
Se estive nessa situação, seguramente não me inscreveria ou realizaria qualquer PACC. Quando entrei para o ensino superior, frequentei um curso que me habilitava profissionalmente para a docência. Sim, habilitava profissionalmente e habilitou profissionalmente para a docência de um determinado grupo disciplinar. Isto quer dizer exactamente isso, nada mais, nada menos.
Ao longo dos anos concorri sempre como professor profissionalizado e fui sempre avaliado e progredi na carreira (até meterem as carreiras nas arcas congeladoras...). 
Não digo que falo de barriga cheia. De facto, no tempo em que comecei a minha carreira, precisamente em 1996, foi relativamente simples vincular. Aliás, teria sido logo no primeiro ano, mas isso acabou por não acontecer e ter que aguardar uma mão cheia de anos. Mas pouco temo depois de mim, muitos colegas que hoje têm quase o mesmo tempo de serviço que eu, outros mais tempo de serviço que eu, têm que se sujeitar a isto? Porquê?
Como alguns sabem, estive mais de uma década ligado à formação inicial de docentes. Reconheci competência a essas pessoas, alunos-futuros-professores tendo-os distinguido na escala utilizada para o efeito. Fui zeloso e profissional ao ponto de não aprovar alunos que considerava não terem competências, capacidades e perfil para serem professores. Não me arrependo pois sempre justifiquei tudo. Enquanto formador de professores sempre disse: “em causa está a profissão docentes, os alunos, as instituições e pessoas que o formaram”. Dizia isto àqueles que fui forçado pelo meu profissionalismo a convidar a desistir. As suas capacidades e conhecimentos eram depois plasmadas em médias de curso que os classificava e viria a graduar para concursos.
Quantos e quantos os alunos que me “passaram pelas mãos” e hoje são meus colegas, caídos nesta abominável PACC. Tenho colegas, muitos que são antigos alunos, alguns com mais de 10 anos de serviço completo. Em vez do Estado e do Ministério vir reclamar “liberdade de escolha” ou “convergência de pensões ou ordenados entre público e privado”, que pense para si e crie de facto aquilo que é realmente a igualdade: que vincule todos os professores contratados com mais de 4 anos de serviço.

Mas voltando à PACC, nunca faria ou me inscreveria na prova pois tanto nos seus cursos universitários que habilitaram profissionalmente para a docência como nas sucessivas avaliações de desempenho os professores demonstraram aquilo que valem.

O MEC não acredita na formação ministrada nas instituições do ensino superior e então, em vez de avaliar seriamente as instituições das quais possivelmente desconfia, “promete” uma prova que pensa ser a salvação de tudo. 
Não, obrigado, NUNCA FARIA ESTA PROVA!

Quantos e quantos professores são contratados, profissionalizados, licenciados, mestres e mesmo doutorados que depois de tudo isto ainda se submetem a uma prova que nada avalia e só é realizada para humilhar as pessoas? A nossa classe... E já imaginaram um licenciado a avaliar uma prova de um professor que até já é doutorado? Pois, pode pedir recurso e são mais uns € que entram por causa da reapreciação. Colegas, não estranhem se um destes dias os professores começarem a ser avaliados sabe-se lá por quem ou se nas provas de um qualquer doutoramento aparecer por lá um licenciado a arguir. Ah! Pois, dizem-me que isso não pois há regras... E não havia regras quanto à profissionalização e o que ela conferia para os docentes? Isso mesmo: ao aceitar esta prova, aceita-se muitas outras coisas e depois haverá sempre um precedente.
Por vezes dizem-me de outras classes profissionais. Sim, o caso de Direito. Quem faz um curso de Direito acaba licenciado em Direito. Para exercer advocacia é necessário o exame da ordem respectiva. Mas qualquer pessoa que entra num curso de Direito sabe disso. As regras, na minha opinião, não se podem mudar com este tipo de efeitos rectroactivos como querem neste caso.
Não se enganem: o MEC sabe precisamente aquilo que está a fazer. Esta a criar guerras entre os docentes. Depois de muitos não fazerem a PACC e outros fazerem e possivelmente a PACC vir acabar por de nada falar (acredito sinceramente nisso), virão aqueles que chorarão pois até tiraram determinada nota e outros não a fizeram e assim subiam uns lugares. Isto é o que o MEC quer, o que o MEC pretende. O que os professores tinham que provar, já provaram. Ponto.
Ainda pergunto: mas os cursos do ensino superior não são avaliados? Se o são e/ou já foram, qual o problema? Algum fechou? Os essas avaliações dos cursos não são uma fortíssima fonte de rendimento? São, pois são e eu sei bem do que falo...
Por muitas das razões invocadas e nunca faria esta PACC e nunca daria dinheiro a ganhar ao Estado pela sua própria incompetência. Isto abre precedentes graves que TODOS deviam vislumbrar.

Não se sujeitem a comparações que até já começaram a existir com a comunicação social a colocar alunos do 12º ano a fazer a prova (ou exemplo, meros exemplos pois aquilo é uma ínfima parte da prova). Ou ainda sujeitar-se a outro tipo de estatísticas e “rankings” que nada traduzem ou de determinadas especulações em fóruns (televisão, rádio, jornais, blogues, etc.). Esta prova não avalia nem pretende absolutamente nada. Apenas serve para “achincalhar” os professores. Todos temos dias bons, muito bons, mas também dias maus e isso pode acontecer numa PACC que nada avalia. Nada mesmo. 

Alguns dirão que falo de “barriga cheia”. Efectivamente não sou contratado, mas também tenho o que dizia ser “o meu lugar” em risco em virtude dos horários zero e das questões da EVT, do fim do par pedagógico e da disciplina. Serei um que talvez, talvez não, mandem para “Requalificação”. Uma forma, também ele de despedimento encapotado. De que me valerá nessa altura uma licenciatura, um mestrado, um doutoramento em fase de conclusão, centenas de horas enquanto formador de professores sendo certificado pelo CCPFC, autor de manuais, livros, artigos publicados em revistas e comunicações e artigos em actas de conferências, projectos internacionais, mais de 10 anos ligado à formação inicial de docentes no ensino superior?

Minhas amigas e amigos, de nada valerá. Não interessa vocês fazerem uma prova se os lugares não existem (ou tratarão de os dizimar, veja-se a falta de professores de ensino especial, grupo que tinha que ser “fustigado” pois era o que ainda conseguia abarcar muitos contratados). Tal como a mim, no meu caso, como percebem a simples alteração de uma matriz curricular, contra um grande número de pareceres contra numa falsa discussão pública, pode deixar-me em “horário zero”. 

A minha LUTA é a VOSSA LUTA, de TODOS os Professores.

Na LUTA dos professores de EVT dizíamos sempre que aquela luta não era de EVT, era de TODOS os professores, daí o slogan: “Somos TODOS EVT”.
Mas como referi, o meu lugar também está em risco. Não não me vou queixar de haver colegas à minha frente que têm menos habilitações do que eu ou que na escola ao lado, se eu lá estivesse, seria o primeiro da lista. O sistema de ensino precisou e precisa de TODOS NÓS. Formados e habilitações, com TODAS as provas já feitas.
Os factores inerentes à lecionação, hoje em dia, são externos e alheios a nós e a qualquer prova. Lembrem-se que sempre que o Ministério quiser, não haverá contratados, basta mudar a componente lectiva, não lectiva, horas de redução, até mudar a matriz curricular (ou outros jogos e vícios... mais privados).
Por isso vos digo e assim termino.
EU NÃO FARIA A PACC. Aliás, nem me inscreveria, sequer.
Mas isso, é uma decisão que compete a cada um que esteja nessa situação. Inscrever-se ou não, fazer a prova ou não. Cada um decida em função das suas convicções.

Na certeza porém, muito pessoal, que SE NINGUÉM REALIZASSE A PROVA OU SE INCREVESSE SEQUER aí seria a MAIOR VITÓRIA DOS PROFESSORES. De TODOS os Professores Portugueses.

Um abraço a todas e todos vocês!
A vossa LUTA é a minha; a NOSSA LUTA!

E já agora, depois deste texto, chumbaria nessa prova. Desacordei ortograficamente; excedi o número de palavras; coisas que nem sequer me apercebi no calor da escrita e sobretudo, poderia levar o corrector às lágrimas. Sinceras ou de crocodilo, tanto faz...

(Se chegaram até aqui, muito obrigado por lerem este texto até ao seu final) 

Texto de autoria do Professor JAR
Sublinhados e negritos da minha autoria


(Till Hafenbrak)

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