sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Instalaram novas SLOT Machines em Lisboa, lá para os lados da 5 de Outubro! (ou sobre o princípio do vício do jogo viciado e a PACC)


"Na noite da passada quinta-feira, aqui mesmo na minha página do Facebook partilhei a minha opinião sobre a PACC e fiz uma análise aprofundada. Mantenho-a, mas sou obrigado a acrescentar mais umas achas a esta fogueira que, se fosse de S. João, de tão alta que já está, ninguém se atreveria a saltá-la.
O vício o jogo é tramado… Sim, a PACC é um jogo. Nada mais, nada menos. Um jogo que foi criado não por qualquer departamento de jogos da Santa Casa mas pelo próprio MEC. Mais perverso é quase obrigar os professores a jogá-lo.
Vício? Perguntam vocês?... Sim, vício… Há adiamentos e prorrogações para tudo (até para as votações da bola de ouro)… e ontem à noite ouvi nas notícias das 21 horas, numa rádio, o ministro (assim mesmo, com minúsculas) dizer que já se tinham inscrito 37000 professores na prova e iam prorrogar o prazo de inscrições… Ora é precisamente aqui que entra o vício… Pelos lados da 5 de Outubro é quase como jogar SLOT MACHINES tal deve ser a azáfama de secretários, técnicos e assessores que, em vez de puxarem uma alavanca carregam numa tecla do computador para actualizar o valor amealhado… Há SLOT MACHINES em que se metem moedas e nunca sai nada… Neste caso o jogo (é simplesmente isso que se trata, jogo) torna-se ainda mais viciante pois a cada actualização sai sempre mais dinheiro… Tal é o encaixe que não importa nada e dá-se mais uns dias que isto entusiasma (dirão eles)…
Os números? Façam as contas SFF: 37.000 vezes 20€ dá um encaixe de 740.000,00€. Mas devemos considerar que os professores do 1º e 2º ciclo e muitos do 3º se inscrevem em mais do que uma específica. Os do 1º ciclo pelo menos em duas e quem é profissionalizado no 1º ciclo e uma disciplina (ou até duas) do 2º ciclo fará quantas? Três ou quatro específicas… Vá lá, dou de barato que desses 37.000, em média, cada um pagou 50€ para fazer todas as provas (provas que foram dadas nos cursos superiores que frequentaram todos os professores e não precisavam nem se justifica qualquer prova, como afirmei anteriormente). Se multiplicarem 50€ por 37.000 inscritos dá a quantia choruda de 1.850.000€… OK, agora por extenso: um milhão, oitocentos e cinquenta mil euros! Números redondos… Já pensaram nisso? Já pensaram que esta forma de espezinhar as pessoas, os professores é insana? O paradoxo: obrigar aqueles que são professores e que se profissionalizaram para tal a fazer uma prova para… ser professor… Foi isso que foi dito aos professores aquando da sua entrada na Universidade? Era isso que estava escrito nas portarias que regulamentam os cursos? Essas portarias foram todas revogadas?
Voltando aos números: já não chega embolsar, números redondos, qualquer coisa como 1.850.000€??? Claro… este vício do jogo (já de si viciado) leva a estas coisas e prorroga-se o prazo de inscrições. Devem já fazer apostas sobre qual será o dia, a hora e o minuto em que chegarão aos 2 milhões de EUROS!... Nessa altura ter-se-á chegado, pelas minhas contas, aos 40 mil inscritos e então até haverá fogo-de-artifício do Terreiro do Paço (o Ministério das Finanças é ali ao lado e devem estar radiantes com a nova fórmula que um “homem da ciência” que anda lá pelos lados da 5 de Outubro criou).
Colegas, acho que devo perguntar: para quê? Vejam e analisem os dados estatísticos do blogue do Arlindo e façam as contas de quantos contratados conseguiram leccionar este ano e nos dois ou três últimos anos. Depois digam-me… Nem de perto nem de longe chega a um número parecido. Talvez apenas 10% desses 37.000 ou pouco mais.
Basta retrocederem um pouco na cronologia da minha página para encontrarem o que escrevi na passada quinta-feira. O encaixe financeiro e a humilhação dos professores (trata-se apenas e só disso mesmo) serve para toda a sobranceria e cria precedentes graves. Infelizmente cria atritos entre aqueles professores que sendo contratados irão fazer ou não a prova; depois os atritos dos do quadro que aceitaram isso a que chamam correcção da prova a uns míseros € que contas feitas são uns trocos para o encaixe do ministério; e depois quem vigia as provas; e já agora, sei que abriram mais locais para realização da prova e eu pergunto de um Dili ou em Macau a prova será diferente ou os colegas que lá estão vão ter que realizar a mesma prova considerando-se que deve acontecer à mesma hora de Portugal continental? Se calhar nem sequer pensaram nisso. Não estranharia, mas isso também não importa nada pois primeiro… €€€
As mães em licença de maternidade devem ser acompanhadas nas provas pelos seus rebentos (nem que tenham uma semana de vida). Pelo menos nas FAQ dizem que a licença de maternidade não é impedimento. E eu peço-vos que analisem então ao estado a que isto chegou: deixar que isto aconteça é dar-lhes carta-branca para que esse tipo de licença até possa acabar…
Mas isto não é só: o sucesso financeiro da iniciativa será tanto que depois a PACC será aplicada aos professores dos quadros. Sim, sei que muitos não acreditam. Volto à EVT… Muitas pessoas não acreditavam que isto afectaria todos, era só “com aqueles”. Redondo engano… Veja-se… As máquinas de guerra estão oleadas e a devastar em todas as frentes, antes que o tempo para eles se esgote. Não restará pedra sobre pedra e a máquina de aplanar vem logo atrás. E aplicar a prova aos professores do quadro é multiplicar ainda mais os €€€… Acho que por aqueles lados onde agora amealham os €€€ devem fazer comparações do género: tantos inscritos dá para pagar determinado número de indemnizações por caducidade de contrato, etc, etc…
E assim se destrói tudo. Num ápice mudam-se regras, estabelecem-se normas, exige-se dinheiro, humilham-se as pessoas. No final de contas, isto não é nada, absolutamente nada para dignificar a profissão docente. É apenas e só, isso sim, para implodir tudo e todos… Entregar tudo a quem já o reclamava há muito… Ainda por lá anda “o homem dos post-it”? Sim, esse que qualquer que seja a cor do governo ou quem esteja no ministério faz cumprir aquilo que está nesses ditos papelinhos amarelos, alterando só a estratégia…
Vamos ver até quando o balão vai encher… Quando não encher mais, rebenta!
Para terminar, ouvi o ministro a dizer que quer reformular os cursos via ensino do superior, os que formam professores e faz uma comparação sobre alunos fracos a matemática e que depois do 9º ano nunca mais tiveram matemática e que acabam professores. Pois é senhor ministro, e se eu lhe pedisse para me explicar tudo com um desenho (é a minha área)? E lhe perguntasse a forma como coloca uma máquina a funcionar e descrevesse o seu funcionamento (sim, também é a minha área e por favor não a confunda com a sua máquina de destruição)? Estou certo que nunca leu sobre a teoria das inteligências múltiplas ou a teoria da flexibilidade cognitiva e que limitar tudo a matemática e línguas é redutor. As artes, ciências e tecnologias também formam. E é cada vez mais triste ouvir dizer “não sei desenhar” ou que quando uma máquina se estraga (por mais simples que seja) o resultado seja esse que imprimi, o da matemática redutora quando as pessoas preferem deitar ao lixo e comprar uma nova (dizem que até nem é cara) quando teriam crescido tanto se percebessem que resolver o problema que a outra tinha era tão fácil e nem gastavam dinheiro nenhum…
Muito há ainda por dizer. Fica para uma próxima crónica, seguramente.
Por hoje, tudo dedicado às SLOT MACHINES e os vícios do jogo viciado que não devem ousar ignorar e se realmente fizeram as ligações correctas, percebem onde tudo vai parar… Aliás… em tempos cheguei a falar em Portugal como a “nova China” pois a China já não tem mão-de-obra tão barata quanto isso e a qualificação dos Portugueses é fantástica e haveria a necessidade de criar uma grande empresa produtora até na própria Europa. É por isso que baixam os salários, crescem as exportações, nós trabalhadores somos cada vez mais mal pagos e até escravizados enquanto os ricos ficam cada vez mais ricos e a fazer crescer os seus impérios… Mas desculpem, isso fica para uma próxima…
Bom fim de semana"

Autoria: Professor José Alberto Rodrigues
Negritos e sublinhados da minha autoria

(Antero)

1 comentário:

  1. Caro Professor
    Vencidos pelo medo, pela inércia, pela inveja, pelo comodismo...Jamais conseguiremos a tão almejada união da classe docente.Eu já desisti.
    Tenho 56 anos cheios de tristeza e desmotivação.
    Tudo de bom
    Maria, QA com 36 anos de serviço

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