sábado, 21 de fevereiro de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

Ética em tempos de crise
Parte 1

É verdade, afinal a nossa identidade muda realmente ao longo da vida. Somos sempre diferentes e a vida é feita de etapas. O que pode ser mais importante que a construção de um ser humano? E afinal, o que são todas as nossas vivências? Não serão todas elas desenvolvidas apenas com o único preceito de construir a nossa moral? Não acredito na maioria dos sucedâneos religiosos. Tenho, contudo, uma firme postura ética. Na verdade, falar de seres humanos e não falar de moral é como falar de água sem oxigénio.

A moral é um instrumento de autorregulação que só faz sentido quando vivemos em grupo. Só o facto de termos uma moral define-nos como seres sociais e determina-nos existencialmente. Se o nosso desígnio fosse o isolamento, seríamos dotados apenas de mecanismos que nos permitissem estabelecer contactos suficientes com o objetivo de procriação, assim como os ursos. Porém não, somos seres morais, que ao refinar os nossos princípios e valores acabamos por construir algo a que chamamos de ética.

A ética evolui naturalmente a par de todos os outros desenvolvimentos na construção dos seres humanos. Durante toda a história, o homem demonstrou ser capaz de comportamentos selvagens e antissociais, logo, a necessidade de compreender de quais circunstâncias nasce a moral. Desde cedo se tentou arranjar formas de regular os impulsos humanos, construindo-se para o efeito conjuntos de normas cujo objetivo final seria proteger a humanidade de si própria. Aceitamos facilmente a premissa de que em tempos de crise os comportamentos modificam-se, pois as necessidades básicas falam quase sempre mais alto que a própria moralidade.


Talvez a única crise que conseguiremos efetivamente compreender seja exclusivamente a crise de valores. Introduzo então aqui uma premissa: Para que a ética seja geral e universal, tem que ser aceite globalmente, ter um carácter universalmente vinculativo e apontar reais consequências. Assim sendo, talvez nem falássemos de crise. A complexidade social contemporânea dificulta apontar causas e soluções concretas e contextualizadas para diversos subtipos de crise, contudo, defender a utilidade de uma ética geral e aplicável a todo e qualquer ser humano é sempre pertinente, se bem que utópica. Introduzo então uma outra premissa: O uso da razão é o elemento primordial e essencial, acima de qualquer cultura, religião ou economia, na superação de qualquer tipo de crise e determinante nas construções éticas globais. 

Eduardo de Montaigne


(Sungwon)

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