quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

Criação
3ª Parte 

O pico da crueldade humana por vezes não tem limites. A responsabilidade e resignação pessoal no ato de procriar transforma o modo como amadurecemos. A partir de uma dada altura, a presença de filhos obriga a que tenhamos que abdicar de muitos projetos, os quais poderíamos usufruir em detrimento da suposição que um filho vai trazer benefícios futuros. Visão egoísta? Porque gerar um filho se não houver benefícios a priori nesse ato?

Será a oxitocina a responsável pelo desejo de procriar? Até é compreensível que a natureza tenha dotado o sexo feminino com um cocktail de hormonas para garantir a manutenção da espécie, mas torna-se difícil de compreender como é que a mesma coisa possa acontecer com o masculino. Está comprovado que a hormona oxitocina é responsável pela sensação de prazer quando a mãe tem o seu bebé e também quando o pai segura o seu filho nos braços. Vários especialistas referem-se a ela como hormona do amor. Assim como a prolactina, a concentração de oxitocina aumenta 40% depois do orgasmo.

Seremos nós vítimas das nossas glândulas endócrinas em detrimento da lógica? Assim como a ansiedade, a depressão, e todas as condições originadas por desequilíbrios químicos no nosso corpo, será o ato de procriar apenas mais um desses desequilíbrios, planeado geneticamente para nos compelir a gerar vida?

A realização fantástica que se passa no ventre da mãe, onde passivamente gera um novo ser, levando em mente a ideia que é ela a responsável última pela construção daquela nova vida, adquire uma dimensão meta-humana. Não acredito que fôssemos capazes de desempenhar uma tarefa de ourives na geração, contudo, não existe nenhum laço humano como o que existe entre mãe e filho. Como pertencemos ao reino animal, talvez este processo não seja mais nobre do que qualquer um dos nossos companheiros de Filo.

Talvez não haja nada realmente nobre em todo o ato de criação. A geração de indivíduos como Kant ou Aristóteles, entre outros génios, justificará por si só a necessidade de continuarmos a insistir neste processo geracional, apenas porque, de vez em quando, aparece alguém verdadeiramente extraordinário? Todos nascem com potencialidades, mas salvo raras exceções, foi a aculturação que fez com que esses indivíduos se tornassem no que foram. Mesmo com todas as potencialidades de genialidade e com a promessa de trazer evolução a todos os outros, acreditamos que vale a pena. Nenhum pai fica satisfeito com um filho idiota, todos desejam um génio. Não significa isto que no fundo procuramos alguma forma de nos sentirmos bem através da geração? Egoísmo que desacredita, em certa medida, as razões da geração. 

Eduardo de Montaigne

Parte 1
Parte 2


(Andi Galdi Vinko)

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