segunda-feira, 15 de junho de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

III

Jamais uma vida fora tão idiossincrática. Já tinha sido o centro do universo e tudo lhe fora permitido sem qualquer tipo de sanção. Uma juventude vivida com liberdade irresponsável e copioso libertinismo, embalando-o inexoravelmente para a mais agridoce das armadilhas humanas. Todas as tristezas e desilusões originaram-se num pobre planeamento de prioridades. Tudo teve para ser feliz, só não queria aquela felicidade de conformismo existencial inconsequente. Todos os seres humanos são dotados de uma grande capacidade de adaptação, o grande problema reside na incapacidade da sociedade se adaptar a nós. Todos o fizeram sentir que deixava escoar o tempo sem nunca fazer nada de importante. Queria apenas fazê-lo à sua maneira, e tinha ali, talvez, a sua última oportunidade de mostrar ao mundo que não era apenas uma alma perdida.

Aspirava a que do seu interior brotassem ideias e pensamentos que explicariam o que a maioria vê apenas como interrogações. Achava a sua visão do mundo incorruptível. Era-lhe inata a capacidade para descobrir as motivações dos outros através da sua afiada e cultivada capacidade de análise. Poucos segredos permaneciam secretos quando capturavam a sua atenção obsessiva. Compreendia o lado material humano e as suas grandes fraquezas, não obstante, deixava a sua própria condição engoli-lo sem qualquer oposição racional. Achava que, se essa era a sua natureza, não devia contrariá-la. Queria descobrir onde ela o levaria. Tudo estaria programado no seu ser, apenas teria que seguir as suas inclinações e desejos, e, desse modo, preencher a sua existência com a essência que lhe era devida.

Eduardo de Montaigne part. I, part. II


(Lana Sutra)

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