quarta-feira, 24 de junho de 2015

Espaço do Correspondente - Eduardo de Montaigne

IV

Sabia que uma das maiores fraquezas do ser humano era a programação inata para nos levar a sentir que fazemos parte de algo maior. Defeito que tem vindo a ser explorado por pessoas sem escrúpulos há já alguns milénios. Não acreditava no destino inexorável, mas nas ações orientadas pela nossa natureza associadas às nossas aprendizagens. Todavia, nem todas as aprendizagens seriam capazes de o demover em contrariar a sua natureza. A natureza de um leão é matar, um búfalo refugia-se no grupo, uma gazela foge, um camaleão camufla-se. Só os seres humanos possuem naturezas diferentes e aglutinantes, o que nos torna animais especiais. Alguns de nós matam, alguns refugiam-se nos outros, outros fogem, outros enterram a cabeça. Por ter essa intuição, sempre desejou ardentemente conhecer qual a sua verdadeira natureza, porém, tinha que deixar que as suas inclinações o orientassem naturalmente, mesmo que por vezes tivesse que trair a sua razão.


Assim que chegou à encruzilhada em que teve que escolher um rumo, fez uma escolha baseada em pressupostos errados. Procurava sempre ser objetivo e assertivo, todavia perdera de vista a lógica assim que decidira namorar o romantismo. Dera consigo a concordar com Voltaire. O amor era mesmo, de todas as paixões, a mais forte. Afetava simultaneamente a mente, o coração e os sentidos. Como ser feliz então, quando tudo em nós se queda a respirar uma única emoção? Decidira que era um percurso fadado à tragédia. Estava convencido que todo o amor era, eventualmente, impossível.

Eduardo de Montaigne part. Ipart. II, part. III


(Lana Sutra)

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